O Que Faz de uma Jóia… Uma Jóia?

Ultimamente tenho dado por mim a pensar, afinal o que define uma jóia. O que é que faz de uma peça mais do que um simples adorno? Durante muito tempo, eu própria pensei que o valor de uma jóia estava no ouro, na prata, nos diamantes. Mas agora, ao criar jóias em porcelana, dou por mim a reflectir: uma jóia é sempre feita de metal precioso? Ou o valor reside noutros aspetos, talvez mais invisíveis?

A porcelana é um material fascinante. Tem uma longa história, está associada à sofisticação e ao requinte, e, ainda assim, quando menciono que faço jóias de porcelana, sinto alguma resistência de imediato. Será que, inconscientemente, continuamos a associar o valor de uma peça ao peso dos metais ou ao brilho das pedras preciosas? E o que dizer do valor do trabalho e do engenho manual, da tradição?

O poder dos materiais e a arte do feito à mão

A porcelana, como outros materiais alternativos, oferece possibilidades criativas quase infinitas. É um meio que exige precisão, paciência e habilidade — características que partilha com certeza com outros materiais. Em cada peça que crio, redescubro o valor do trabalho manual, que envolve um processo complexo de uma série de etapas que exigem técnica e mestria, algo que os metais preciosos e as pedras partilham, por exemplo, mas que não lhes é exclusivo.

É curioso como, ao longo dos tempos, o trabalho dos artesãos moldou a nossa perceção do valor das jóias. Antigamente, ourives e ceramistas eram vistos como mestres, guardiões de um conhecimento e de técnicas transmitidas de geração em geração. Hoje, esse conhecimento torna-se cada vez mais raro, pois são poucos os que escolhem seguir por este caminho. Embora essas técnicas sejam cada vez mais escassas e, portanto, possam ser consideradas mais valiosas, a proliferação de vídeos e tutoriais online pode criar a ilusão de que o trabalho artesanal é simples e acessível. Essa percepção pode, de certa forma, desvalorizar o esforço e a dedicação que realmente estão por trás da criação de cada peça. Será que o valor de uma jóia se limita apenas aos materiais “nobres”, ou devemos repensar o que realmente significa ser um artesão no mundo moderno?

Jóias e o valor da singularidade

Há algo profundamente valioso em usar uma peça que foi feita à mão, que carrega consigo a dedicação e o tempo de alguém que lhe conferiu vida. Isso leva-me a pensar: será que o verdadeiro valor de uma jóia não reside no material, mas no processo que a traz ao mundo? Quando observo as minhas peças de porcelana, vejo nelas não só o resultado de um processo físico, mas também a presença do ofício e da paixão pelo trabalho manual.

Este é um dos maiores desafios que enfrentamos enquanto criadores: mostrar que o valor não vem apenas do material em si, mas do design, da personalidade, e, principalmente, da arte que cada peça carrega. Talvez devêssemos começar a ver as jóias de uma forma diferente, valorizando o trabalho artístico envolvido, o significado e a criatividade. As peças de porcelana, pela sua natureza delicada e meticulosa, requerem uma atenção e um cuidado que as elevam a um estatuto tão nobre quanto o de uma peça de ouro ou outro material qualquer.

A persistência do artesanato e o futuro da joalharia

À medida que as técnicas artesanais se tornam mais raras, é cada vez mais importante reconhecermos o valor do trabalho artesanal. É neste contexto que a porcelana pode ser entendida como uma espécie de resistência, uma afirmação do valor do feito à mão, do valor de cada etapa cuidadosamente executada. Uma peça que traz consigo a paciência, o engenho e a destreza de quem faz, deve, talvez, ser vista como jóia, independentemente do material.

Isto leva-me a refletir sobre o que realmente importa numa jóia. A sua beleza e o seu valor não podem ser limitados aos materiais. A joalharia moderna parece estar a caminhar para uma visão mais inclusiva, onde o valor também é medido pela criatividade, pela sustentabilidade e pela expressão pessoal. Talvez seja altura de deixar de lado as definições rígidas e de nos abrirmos à ideia de que jóias podem surgir em formas e materiais inesperados, desde que tenham alma, história, e um significado para quem as cria e as usa.

Redefinir o valor: o desafio das novas jóias

Afinal, uma jóia é sempre algo precioso, mas essa preciosidade pode e deve ir além dos metais e pedras raras. O que realmente define uma jóia é a sua capacidade de nos fazer sentir algo, de nos ligar a histórias e tradições, de nos trazer um sentimento de pertença ou de singularidade. Talvez seja isso o que eu espero que as pessoas encontrem nas minhas peças de porcelana: não apenas um adorno, mas uma expressão artística, uma celebração do feito à mão e do que é único.

E quem sabe? Pode ser que, com o tempo, os materiais alternativos encontrem um lugar no coração das pessoas ao lado do ouro e da prata. Talvez a verdadeira jóia seja, afinal, a ideia de que a beleza e o valor vêm em muitas formas. E talvez seja isso que devamos celebrar: a capacidade de olhar além dos materiais e de ver, em cada peça, o reflexo de uma história, de um saber fazer que não deve ser esquecido.

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